Havia um senador que, diante da ameaça de não se reeleger, não titubeou. Reuniu os ingredientes necessários a um ritual e, à meia noite, invocou o diabo.
Não sabia se daria certo. Possuía há mais de dez anos o ritual numa folha de papel dada por um ex-padre já falecido, e nunca tivera necessidade de levá-lo a termo. Agora que a necessidade aparecia, imaginou se não estava diante de mais uma crendice, como as tantas que esse miserável povo brasileiro inventa para maquiar a sua ignorância, a sua selvageria, a sua nojeira.
Quando a sala em que estava começou a feder a enxofre, ele teve certeza de que daria certo. Do lugar marcado com sangue no chão, uma chama começou a subir e a tomar forma de homem.
“Boa noite, senador”, disse, afinal, o diabo materializado.
“Preciso de sua ajuda”, gaguejou o senador da República. “Esse ano posso perder meu mandato. Dois senadores serão eleitos para o Congresso Nacional, e as pesquisas dizem que estou em terceiro lugar, caindo para quarto. Eu não posso perder essa vaga. Não posso. A eleição é daqui a três dias. Estou desesperado. Não sei como reverter esse quadro.”
“O senhor quer que eu seja seu cabo eleitoral?”
Para alguém que vivia no inferno, o diabo tinha um senso de humor impecável.
“Preciso”, pediu o senador, “que você elimine meus concorrentes. Há uma mulher. E um viado. Um sodomita. Que estão na minha frente. Se eles morressem, eu seria imbatível. Você pode fazer isso.”
“Posso. Claro. Mas há um preço.”
“Eu sei. A minha alma. É sua.”
“Hoje não. Hoje quero fazer uma brincadeira diferente. Não estou interessado em sua alma.”
“Não?”, o senador sorriu, aliviado. Ia ganhar a eleição sem precisar vender a alma ao diabo. Seria mais fácil do que imaginava. “E o que você quer de mim?”
“A sua neta.”
“Minha neta?”
“Sua neta.”
“Mas ela é uma criança. Tem só quinze anos.”
“E é virgem. Eu sei.”
“Você não prefere a minha alma?”
“Claro que não.”
“Eu posso conseguir outra menina para você. Da mesma idade. Virgem igual. Possuo contatos.”
“Não tenho o dia todo, senador. É pegar ou largar.”
“Eu pego. Eu pego. Pode levar a minha neta. Quer que eu vá buscá-la?”
“Não precisa. Eu sei onde ela dorme.”