sábado, 26 de abril de 2014

Conversa de bêbado em Dostoiévski

"Mas escuta: por mais estúpido que seja, penso; apesar de tudo, sempre estou pensando, de quando em quando, naturalmente. Será possível, cismo eu, que os diabos se esqueçam de me agarrar com seus ganchos, depois de minha morte? Ganchos... ganchos... porém onde os guardam? De que são feitos? De ferro? Mas onde os forjam? E então será que eles têm no inferno fábrica disso? Porque lá no convento há gente que imagina que no inferno há teto; acho assim mais delicado, mais culto, mais luterano. E na verdade: não é indiferente que tenha teto ou não o tenha? Mas aí está, precisamente, o diabo da questão! Porque, se não tem teto, tampouco tem ganchos. E se não tem ganchos, tudo se desmorona. Isto é... torna-se inverossímil. Quem então vai me levar enganchado? E se não me levam enganchado, que acontecerá então - onde está a verdade, neste mundo?" ("Os Irmãos Karamázovi")