Chamou.
“Venha
comigo. Aqui é frio. E a essa hora pode ser perigoso.”
Ela
olhou no relógio. De fato, era tarde. E, de fato, a estação vazia poderia ser
perigosa.
Ela
aceitou.
Dentro
do carro ele ia falando de estrelas, pontes, pastas de cartolina, muros, canto
gregoriano, Tales de Mileto e cerveja sem álcool. Quando falou em astrologia,
ela ficou tão excitada que pediu para que ele parasse o carro.
“Parar
o carro? Aqui? Aconteceu alguma coisa?”
“Aqui.
Agora. Depressa.”
Ele
parou enquanto ela desabotoava a blusa e levantava a saia. Ele abriu o zíper e desajeitado
se deitou em cima dela. Penetrava com tanta voracidade que não percebeu quando
pequenos vermes começaram a sair da boca que o beijava. Pequenos vermes
brancos, moles e vivos, em quantidades cada vez maiores.
Quando
os vermes começaram a sair também das narinas e dos olhos, ele viu. E gritou,
afastando-se, saindo de dentro dela. Acendeu a luz no interior do carro. Os vermezinhos
escapuliam também da vagina que ele acabara de penetrar, aos montes. Ela ainda
gemia, como se a trepada não tivesse terminado, movia-se em convulsões, e ele então
se pôs a gritar de horror e de nojo.
Ele
saiu correndo para fora do carro. Precisava chamar alguém, a polícia,
ambulância. Mas o celular ficara dentro do carro. Com ela. E os vermes. Com a
própria saliva tentou lavar o pau. Desesperado com a possibilidade de começarem
a sair vermes dali. Acabou vomitando.
Do
carro vinha um cheiro horroroso de coisa podre. Quando uma viatura da polícia
afinal surgiu no horizonte, ele acenou em desespero.
Ninguém
acreditou no que havia dentro do carro.