quinta-feira, 24 de julho de 2014

Carona



Chamou.

“Venha comigo. Aqui é frio. E a essa hora pode ser perigoso.”

Ela olhou no relógio. De fato, era tarde. E, de fato, a estação vazia poderia ser perigosa.

Ela aceitou.

Dentro do carro ele ia falando de estrelas, pontes, pastas de cartolina, muros, canto gregoriano, Tales de Mileto e cerveja sem álcool. Quando falou em astrologia, ela ficou tão excitada que pediu para que ele parasse o carro.

“Parar o carro? Aqui? Aconteceu alguma coisa?”

“Aqui. Agora. Depressa.”

Ele parou enquanto ela desabotoava a blusa e levantava a saia. Ele abriu o zíper e desajeitado se deitou em cima dela. Penetrava com tanta voracidade que não percebeu quando pequenos vermes começaram a sair da boca que o beijava. Pequenos vermes brancos, moles e vivos, em quantidades cada vez maiores.

Quando os vermes começaram a sair também das narinas e dos olhos, ele viu. E gritou, afastando-se, saindo de dentro dela. Acendeu a luz no interior do carro. Os vermezinhos escapuliam também da vagina que ele acabara de penetrar, aos montes. Ela ainda gemia, como se a trepada não tivesse terminado, movia-se em convulsões, e ele então se pôs a gritar de horror e de nojo.

Ele saiu correndo para fora do carro. Precisava chamar alguém, a polícia, ambulância. Mas o celular ficara dentro do carro. Com ela. E os vermes. Com a própria saliva tentou lavar o pau. Desesperado com a possibilidade de começarem a sair vermes dali. Acabou vomitando.

Do carro vinha um cheiro horroroso de coisa podre. Quando uma viatura da polícia afinal surgiu no horizonte, ele acenou em desespero.

Ninguém acreditou no que havia dentro do carro.