“Você
nasceu com duas cabeças”, disse o irmão mais velho ao caçula. “Uma inteligente
e outra burra. Tiveram que cortar uma delas. Só que cortaram a cabeça errada.
Por isso que você é assim.”
Contrastando
e combinando com a crueldade do irmão mais velho, que o levava a fazer
afirmações como esta, havia a ingenuidade do mais novo, que o levava a acreditar.
Foi
então o irmão mais novo consultar a mãe.
“Nasci
com duas cabeças? Cortaram uma delas? Ficou apenas a burra, mamãe?”
A
mãe puxou carinhosa o pequeno para junto de si.
“Claro
que não. Você nasceu normal e lindo e nós o amamos muito. É um menino inteligente
e querido. Eu e seu pai somos muito felizes por ter você conosco. Você traz luz
às nossas vidas e nos tornou pessoas melhores.”
Com
lágrimas nos olhos o menino abraçou a mãe e o pai que estava por perto. Depois
foi correndo esfregar na cara do irmão as palavras que guardaria na memória
para o resto da vida.
“Será
que eu fui convincente?”, a mãe perguntou ao pai. “Será que ele acreditou?”
“Deve
ter acreditado”, disse o pai. “O menino é muito burro.”
“Ainda
acho que não deveríamos ter cortado uma das cabeças. Ele poderia muito bem
ficar como o avô.”
“Ah,
não. De monstro na família, basta o teu pai.”