domingo, 12 de outubro de 2014

Panelinhas

Texto copiado do Facebook de Marcelo Mirisola.

Se Raquel Cozer não tivesse alertado ontem em sua coluna na FSP, talvez o fato de uma jurada ser editora de dois finalistas do Prêmio São Paulo passasse despercebido. Essa mesma jurada é a responsável pela seleção de autores que irão representar o Brasil na feira de Paris. 

Para ganhar prêmios literários no Brasil, e para desfrutar de viagens internacionais e de toda mordomia e dos dividendos provenientes do business em questão, não basta ser escritor.

Tô batendo nessa tecla há mais de dez anos, desde quando Manuel da Costa Pinto me disse que um tal "lobbie" gaúcho foi mais forte do que ele na final do Prêmio Portugal Telecom de 2004, ocasião em que meu "Bangalô" dançou. Quebrei o pau com Manuelzinho, que foi curador de Flip, depois de Frankfurt, e é editor do Guia da Folha (que me sacaneou recentemente) e foi jurado de infinitos prêmios literários ao longo dos últimos dez anos. Depois disso veio o Amores Expressos , e eu me envolvi em mais uma confusão por denunciar o "projeto" que usava dinheiro público de renúncia fiscal para levar a playboizada metida a escritora pra passear ao redor mundo. Fica difícil sobreviver como escritor se voce não ganha prêmios, e não é bem relacionado. Aos poucos seu nome vai sendo apagado e esquecido. Não te chamam pra mais nada. Voce sai da pauta, só "ganha" resenha se for premiado, se desfilar nos festivais da moda, e se for amigo dos amigos etc.

E são sempre os mesmos amigos. Num ano são jurados, no outro são eleitos. Basta cruzar os nomes dos últimos ganhadores de Jabutis, Telecons, Petrobrás, Paccs, etc: não é só prestigio, rola dinheiro público: são bolsas, editais, prêmios, viagens, etctctc. Eu não sou jornalista, mas se existe alguém sério na área, taí a pauta de bandeja, investiguem: cruzem os dados, façam uma auditoria.

No caso da jurada do Prêmio São Paulo, ela foi editora de um escolhido, portanto uma amiga. Descobriram, teve de pegar o chapéu e se retirar. E quando os jurados são declaradamente seus inimigos? Qual a credibilidade do Prêmio Telecom desse ano, por exemplo? Dos seis jurados, dois são meus inimigos declarados ( Manuelzinho é um..) e um foi ridicularizado no livro em julgamento. Claro que o Cristo Empalado ficou de fora.

Como é que dá pra levar a sério essa engrenagem viciada que excluiu meus dezesseis livros de suas premiações? Hosana na Sarjeta está indo pro ralo do esquecimento da mesma forma... E tem muita gente boa que foi esquecida porque não é dona de prêmios e medalhas.. Só pra dar um exemplo, quem é que conhece Marcia Denser? Duvido que a autora de "Diana Caçadora" , a maior contista do Brasil, será convidada para a Feira de Paris. Mas o editado da ex-jurada do Prêmio São Paulo estará lá, querem apostar?