segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Véspera



Não é coisa da minha cabeça.

Eu poderia culpar a solidão, a depressão, o pânico, até a carência afetiva e sexual. Mas não é nada disso.

Nenhuma perturbação deixa no ar este cheiro. 

A paranoia não mancha as paredes da casa, nem escapole dos sonhos para rabiscar nas folhas do meu diário mensagens de um ser que não sou eu, com um sangue que não é o meu, em cima da infelicidade que eu jamais revelei a ninguém sofrer.

Eu sei que há mais alguém dentro da minha casa.

Os passos que escuto à noite não são criação minha. Eu não finjo ou imagino um medo de algo que não existe. Este algo existe e fere.

Não consigo sair de casa. Não consigo pedir socorro. A todo instante, a vontade de reagir é minada, contaminada, perfurada até que se quebre e nada mais reste além da paralisia. E seres paralisados não se defendem.

Amanhã é dia do meu aniversário. É com horror que pressinto a celebração que me aguarda.