segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Praça




A mulher muito magra, muito velha, vestindo farrapos cinzentos, perguntou ao homem sentado sozinho no banco da praça.

“Você tem um animal de estimação em casa?

 “Não.” 

“Crianças? Filhos?” 

“Não.” 

“Um grande amor?” 

“Não tenho.” 

“Não tem nada a perder?” 

“Hoje, não mais.” 

"Pela expressão vazia no rosto do homem, eram verdadeiras as suas respostas. A velha pareceu entediada, e sem se despedir largou o homem patético com a sua solidão. 

Quando ela se aproximou do lugar onde eu estava sentado, o cheiro de enxofre a precedeu. 

“Boa noite”, ela falou, enquanto sentava à minha direita. 

Ela então olharia para mim, para os meus olhos, e, como que encontrando afortunadamente um objeto de grande valor, sussurraria as palavras que me soaram como a sentença de algo pior do que a morte: 

“Como vão as crianças?”