Seu animal
de estimação era um lagarto grande, cinza, do tamanho de um cachorro de pequeno
porte. Maior, se contasse a cauda comprida. Júnior dizia que era o seu pequeno
dinossauro.
O rapaz montava armadilhas ao redor
da casa para capturar vivos os ratos e os outros animais que apareciam. Gostava
de coloca-los na mesma caixa com o lagarto e ficar assistindo. Enquanto o
intruso caminhava desconfiado pelo lugar estranho, o lagarto esticava a língua
bífida, farejando através dela a novidade. Então avançava. A vítima era
abocanhada e sacudida violentamente de um lado para o outro. Caso conseguisse
se desvencilhar e fugir, o lagarto a capturava novamente e repetia o processo.
O embate não durava mais de cinco minutos, e sempre terminava com o lagarto
alimentado e satisfeito. Era um bom predador. Fascinado, Júnior chegava a
elogiar o amigo: “Bom garoto”.
Num domingo de manhã, Júnior encontrou o lagarto morto. Metade do
corpo havia sido devorada, as vísceras ainda quentes expostas no chão da sala.
Júnior recolheu o corpo delicadamente. Levou-o para o quarto e
deitou-se com ele na cama, em prantos. Ficaram assim até anoitecer, na
escuridão da despedida, quando o silêncio foi interrompido por um crescente
rumor. Júnior levantou a cabeça, desconfiado. Concentrou-se no ruído e, quando
enfim identificou-lhe a origem, se viu tomado pelo horror.
Vindo de todos os lados, no chão, era possível ouvir nitidamente o
som de um milhão de ratos que se amontoavam por cada canto da casa, subindo
pelos móveis e devorando o que encontrassem pela frente. Quando sentiu que
começavam a subir pelos pés da cama, tudo o que Júnior conseguiu fazer foi
abraçar o lagarto morto e, incapaz de pôr para fora o pânico que o estrangulava,
gemer.