terça-feira, 5 de dezembro de 2017

No escuro não se via o rosto do homem



No meio da noite, um choro de criança.
A mãe, menor de idade, levantou da cama ainda sob efeito de drogas. O pai continuou dormindo.
Diante do bebê, as mãos indecisas na cintura, a mãe não sabia o que fazer. Fome não era. Talvez o menino estivesse com dor.
“Dê isso a ele.”
A mãe se virou com um susto.
“Quem é você?”
“Pode dar. Ele não vai mais incomodar.”
No escuro não se via o rosto do homem. Mas não era a voz do pai.
A mãe pegou o vidrinho que o desconhecido oferecia.
“Pode dar tudo pra ele.”
Sentindo-se tomada de uma leve vertigem, e louca par retornar logo para a cama, a mãe fez o bebê engolir todo o pó branco contido no vidrinho. Ficou olhando a criança parar de chorar e finalmente adormecer.
“Não falei?”
“É. Obrigada. Você é amigo do Marcelinho?”
“Talvez.”
“Ok. É que eu nunca tinha visto você aqui. Vou voltar pro quarto, tá? Vai ficar aí?”
“Vou.”
Enquanto a mãe voltava para a cama, o desconhecido pegou a criança no colo e deixou o apartamento sem fazer barulho.